sexta-feira, 26 de maio de 2023

O assassinato de Militão e o afastamento de Ferro

O assassinato de Militão 

  •  Morre, na Penitenciária de Lisboa, Militão Ribeiro, dirigente comunista. A 2 de Janeiro de 1950, Militão Ribeiro, membro do Comité Central e do Secretariado do PCP, morria na Cadeia Penitenciaria de Lisboa, nove meses depois de ter sido preso pela PIDE conjuntamente com Álvaro Cunhal e Sofia Ferreira, numa casa clandestina, no Luso. Militão Ribeiro e Álvaro Cunhal foram sujeitos a um regime prisional brutal, um regime de excepção, de arbitrariedade e violência

  •  As consequências para a saúde deles eram inevitáveis. Militão Ribeiro sofria de grave doença do fígado contraída no Campo do Tarrafal, onde passara seis anos.

  •  A falta de uma alimentação e medicação adequadas tornaram-se fatais. Militão descreveu de forma circunstanciada o tratamento brutal que lhe foi infligido, numa carta que fez chegar clandestinamente ao Partido e onde se pode ler: «Tenho sofrido o que um ser humano pode sofrer. Nem sei como tenho tido forças para tanto (…). Desde sempre mantive a disposição de dar a vida pelo Partido em todas as circunstâncias assim como a dou de uma forma horrível e cheia de sofrimento.

  •  Mesmo quase já um cadáver ainda fui esbofeteado por um agente. Dores, insónias, fome, agonias, tudo tenho sofrido nestes sete meses». 

  •  A Índia propõe a integração da "Índia Portuguesa" na União Indiana No passado dia 27 de Fevereiro, o Governo indiano apresenta ao Governo português uma proposta de negociação para o Estado Português da Índia ser integrado na União Indiana.

  •  O Governo recusa, afirmando não ser possível considerar questões de soberania dos seus territórios.

  •  António Ferro deixa a direcção do SNI. 

  •  António Ferro abraçou a carreira política, tendo dirigido o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) desde a sua criação por Salazar, em 1933, até agora. É sua a formulação doutrinária, a partir de 1932, da chamada Política do Espírito, nome que teve em Portugal a política de fomento cultural e de propaganda do regime. 

  •  Depois de em 1933 ter publicado um livro de entrevistas com o ditador (Salazar, o Homem e a Obra), este chamou-o para seu próximo colaborador com as funções simultâneas de chefe da propaganda e de responsável pelo sector cultural. António Ferro, tal como Gobbels tinha uma percepção clara de como a cultura se poderia transformar num poderoso instrumento de poder ao serviço do Estado, nomeadamente na construção de uma retórica cultural onde os conflitos sociais são harmonizados em torno de grandes desígnios nacionais. 

  •  Ao Povo Português é atribuída uma missão divina - propagar e defender os grandes valores da cristandade no mundo. O seu Império é apresentado como o exemplo da obra civilizacional do mundo ocidental.

  •  As suas aldeias, constituída por gente trabalhadora, pobre e feliz é apresentada como um exemplo às outras nações civilizadas, onde pululam grandes urbes industrializadas minadas pela desordem e imoralidade. 

  •  O discurso da superioridade de modelo de sociedade portuguesa, assente no corporativismo, transformou-se subitamente no discurso das causas do atraso económico do país. 

  • Neste contexto, Salazar rapidamente percebeu que tinha que alterar o discurso do regime e mudar os mecanismos de controlo social, mas para isso tinha também que afastar o homem que criara e encarnara o modelo anterior. 

  •  António Ferro é compulsivamente afastado do cargo que desempenhou desde 1933.

  •  Fonte:Carlos Fontes-Coisas da cultura