quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A Portaria dos sinos

 Casa Comum, 31 de Julho de 1929

Minha cara amiga Severa:

Isto é que têm sido tempos agitados, desde a última vez que falámos. O homem de Santa Comba esteve hospitalizado no hospital da Ordem Terceira no Chiado, mas pelo vistos não é grave, só partiu uma perna. Os amigos, dizem que o homem tem queda para as finanças.

Eu acho que, às vezes há sinais , avisos que devemos respeitar, sobretudo quando se trata de quedas.

Que me diz daquela coisa da Portaria dos sinos ? Como você sabe desde o tempo do Sidónio, que havia a proibição do toque dos sinos, fora das horas permitidas. Uma igreja qualquer de Évora resolveu tocar os sinos fora de horas que o Governador-civil proibiu. Mete-se o arcebispo de Évora no assunto e faz queixa ao Mário de Figueiredo, que estava na chefia da Justiça e que entra a matar, publica uma Portaria, que permite manifestações públicas do culto católicos, com procissões e toques de sinos.

Caldo entornado, Maçonaria em acção, e o ministro da guerra Júlio Morais Sarmento comanda protestos no próprio Conselho de Ministros e você bem o conhece como republicano, anti-clerical. Discute-se o "importantíssimo problema" e Mário de Figueiredo, impetuoso, perante a atitude contrária do ministro da Guerra e do Presidente do Ministério, apresenta o seu pedido de demissão.

O nosso engessado perneta, imobilizado no hospital, quando sabe da atitude do seu companheiro de governo, escreve ao Chefe do Estado e ao Presidente do Ministério, a manifestar o seu desejo de se afastar, pretextando motivo de doença.

O Presidente Carmona procurou harmonizar a situação. Figueiredo teima em manter a portaria. Sarmento obstina-se em reprová-la. O chefe Vicente de Freitas publicou uma nota oficiosa desagradável para Salazar e manda cortar pela censura uma entrevista dada pelo ministro das Finanças ao "Século",onde considera que a demissão do gabinete se filia em razões de ordem geral e não apenas por causa da portaria dos sinos.

Uma coisa é certa Carmona não dispensa o Salazar, mas aceita a demissão do restante governo de Vicente de Freitas, afinal o governo a que presidia, caiu aos pés do seu verdadeiro chefe, o ungido do Senhor, o clerical Salazar.

Carmona, chama Ivens Ferraz para formar Governo. Salazar é o único que transita, mas o homem faz o que quer bate o pé, só entra na condição de se manter válida a portaria em causa.

Você que anda lá pelo norte, deve ter sabido da reunião em Torres Vedras no passado dia 7, dos viticultores do centro e sul criticando o chamado projecto de salvação do Douro, que visava proibir a entrada na região do Douro das aguardentes do Centro e do Sul. É de novo a defesa do vinho do Porto, velha questão iniciada com Pombal, mas que desta vez com o apoio nos Sindicatos Agrícolas, das Câmaras locais e da Comissão de Viticultura do Douro

José Relvas, presente, considera a solução como imbecil, ele terá as suas razões, essa reacção já vem do governo de João Franco, que restaurou o regime de privilégio do vinho do Porto e que desde então, suscita larga controvérsia e a crítica de muitos agricultores de outras regiões do país, designadamente do Ribatejo.

Os americanos estão sempre a inventar coisas para ter a "coisa a mexer", e é desses movimentos que se gera dinheiro. Agora foi essa coisa dos Óscares, organizados pela própria indústria do filmes, para premiar os melhores.

Esta primeira edição tevo como vencedor do melhor filme um chamado Wings (Asas), que você deve ter visto, é a história de dois jovens rapazes, um rico, outro de classe média, que se apaixonam pela mesma mulher, se tornam pilotos de guerra. Um filme com Clara Bow

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