quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Dois meses de revolta armada

Casa Comum, 31 de Maio de 1931 

 Pois é verdade a minha amiga Severa sempre deixa para mim a codêa e come o miolo, que é como quem diz, a sensaboria das politiquices, reservando-se para o fascínio das artes. 

 Curiosamente parece que a substituição na pasta da guerra de Namorado de Aguiar por Schiappa de Azevedo, por desvarios conspirativos para derrube do Salazar, que "namorando" o Ivens Ferraz, trocavam segredinhos para o fazer saltar. 

 Consta-se que o homem têm ouvidos nas costas e adivinhou antes do tempo certo, ou talvez que não passasse de boataria, que a intriga também é muita e você, bem sabe como é esta gente da nossa terra. 

 Pelo sim pelo não, o Salazar não se mete com o general Ferraz, sempre é o Chefe máximo do Estado-Maior e com militares nunca se sabe. 

 Falando em guerra, estes 2 meses últimos foram em polvorosa, revoltas militares na Madeira, nos Açores e na Guiné, é obra. 

 Na Madeira começou em 4 de Abril e durou 28 dias, sob o comando da Junta Revolucionária da Madeira, presidida pelo General Sousa Dias, criou um embrião de governo provisório que tomou medidas de alcance económico e social, e que foi um pouco o feitiço contra o feiticeiro, pois teve origem nos deportados pelo regime para a Madeira que, seriam cerca de 200, entre civis e militares, numa altura em se sentia o descontentamento por sucessivas lutas da população da Madeira contra medidas do governo central de que é bem conhecida a "revolta da farinha" e os apertos orçamentais, que sempre aleijam mais o mais fraco. 

 Sendo assim minha amiga, foi como juntar a mexa ao trapo, mas 28 dias de resistência foi heroico, porém já foram derrotados pelas "forças leais ao governo", como eles dizem. 

 Nos Açores, o comandante Maia Rebelo, o capitão de mar e guerra João Manuel de Carvalho, o major Armando Pires Falcão e o sidonista Lobo Pimentel, chefiam o levantamento e aderem à revolta as ilhas de S. Miguel, Terceira, Graciosa e S. Jorge. 

 A 17 de Abril, na Guiné, prendendo o governador e não encontrando resistência, forma-se então uma Junta Revolucionária, naquela província, que formula a mesma luta contra Lisboa. 

 A desigualdade de forças, determinou o fim de todas estes levantamentos, afinal também reflexo da depressão de 1929, que como sempre nestes casos chega sempre mais tarde às economias mais débeis. 

A crise monetária europeia no início deste ano, fez-se sentir, nos seus efeitos bancários e cambiais, também em Portugal. 

 O governo de Oliveira Salazar encetou um conjunto de medidas restritivas, começando pelo orçamento de 1931/32, para o qual se prevê um decréscimo de 7,8% nas despesas, com um superavit de 1900 contos, mas com efeitos devastadores para as classe mais desfavorecidas. 

 Que importa ao homem das finanças, se o povo passa fome, o que lhe interessa é aferrolhar, poupar os 1900 contos de reis, é o que importa. 

 Não me esqueci da vitoria Republicana em Espanha, devem vir a dar-me por certo motivos para sorrir, mas foi só há mês e meio, em 14 de Abril, estou a reunir umas informações que depois lhe conto. 

 Como é habito acabar-se com música deixo-a com o hino da Segunda Republica Espanhola

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