quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Menos um republicano em tempo de Ditadura



Casa Comum, 15 de Novembro de 1929

As notícias vindas de Nova Iorque, são alarmantes, o que aconteceu na passada quinta-feira dia 24 com a quebra da Bolsa de Valores, bancos e investidores perderam grandes somas em dinheiro.

A situação dos bancos foi agravada pelo facto de muitos deles que haviam emprestado grandes somas de dinheiro a fazendeiros, após o início duma grade recessão económica, estes fazendeiros tornaram-se incapazes de pagar as suas dívidas, cavaram enormes prejuízos, levando essas entidades bancárias ao descalabro.

O pânico que instalou-se entre as pessoas, que temendo uma possível falência, correram a retirar os fundos, levando-as a fechar as portas.

Consta-se que milhares de accionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham.

Temo que esta grave situação se venha a estender, pela Europa. Nesta caso quanto mais desenvolvidas são as economias maior é o estrondo, cá por casa, talvez não seja tão grave, porque a loja também é pequena.

A procissão ainda vai no adro, vamos ver o que por ai virá.

Se por um lado uma crise se avizinha, por outro algumas boas notícias para a humanidade, assim têm que ser observados, todos os avanços que possam haver no entendimento entre os povos , para defesa das garantias da condição humana.

Neste caso, aponto a assinatura da terceira convenção de Genebra, que teve como objectivo definir o tratamento de prisioneiros de guerra. Acabámos uma guerra há pouco tempo, tantas atrocidades foram cometidas, que urge consagrar os direitos que essas pessoas terão inerente à sua condição.

Esta Convenção fixou igualmente os limites do tratamento geral de prisioneiros, como:
a obrigação de tratar os prisioneiros humanamente, sendo a tortura e quaisquer atos de pressão física ou psicológica proibidos.
obrigações sanitárias, seja ao nível da higiene ou da alimentação.
o respeito da religião dos prisioneiros.
permitir ao Comitê internacional da Cruz Vermelha (CICR) visitar todos os campos de prisioneiros de guerra sem nenhuma restrição e dialogar sem testemunhas como os prisioneiros.
Mas a morte de António José de Almeida a 31 de Outubro, foi para nós, republicanos e lutadores pela liberdade, uma perda terrível.

Não só pelo simbolísmo de ter sido o 6° Presidente da República Portuguesa, mas por ser um Republicano desde os bancos da escola.

Médico, esteve em São Tomé a exercer a sua profissão mas especializando-se também em doenças tropicais.

Ingressou no Partido Republicano Português e, mais tarde, também na Maçonaria e na Carbonária.

Foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano já este ano, mas nunca pode tomar posse devido ao seu estado de saúde.

Aliás nos últimos anos, doente e prematuramente envelhecido, passou em silêncio literário e político os últimos anos de vida.

O seu funeral foi uma manifestação impressionante de pesar. No dia seguinte o "Diário de Notícias" lançou a ideia de se lhe erigir um monumento, ideia que aprovo inteiramente.


Em sua homenagem, que outra coisa poderia mais apropriada para lhe oferecer que a audição do Requiem de Berlioz,

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