quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O duplo ministro

Casa Comum, 31 de Janeiro de 1930

 Há muito tempo que não lhe escrevo e muito embora nas questões políticas seja o meu amigo o mais erudito e eu mais para as artes, também não fico indiferente aos aspectos políticos. 

Destaco a morte do Primo de Rivera, em Paris, no passado dia 16 de Março. Afinal o ditador espanhol, grande "farol inspirador" dos nossos governantes actuais e dos mentores do golpe original do 28 de Maio. 

 Contudo caiu em desgraça junto do rei e abandonado pelos altos comandos militares e pelo rei, apresentou a sua demissão e exilou-se em Paris, não sem antes recomendar a Afonso XIII alguns nomes de militares que poderiam suceder-lhe à frente do governo, entre eles o do general Dámaso Berenguer, o senhor que se segue. 

 Por cá continua a saga dos militares, meu caro amigo, aí está o general Domingos de Oliveira, um "velho talassa", ligado ao movimento da espadas, que levou o Pimenta de Castro ao poder em 1915. 

Enfim os governos e os ministros vão e vêm, mas o Finanças de Santa Comba, permanece, cada vez mais poderoso, embora com novas companhias, que duvido não seja ele a escolher. 

 Aliás os poderes do ministro Salazar, ficam mais que reforçados, já que ocupa a pasta das Colónias em acumulação. 

Curiosamente na sequência um conflito, em que o próprio Salazar, era interveniente, por causa da concessão dum crédito a Angola, que opunha as Finanças ao governador do Banco de Angola, Cunha Leal e que tinha estado na origem da queda do governo anterior. 

 Naturalmente que após a tomada de posse do novo governo, Salazar duplamente ministro, começa por demitir Cunha Leal, "deixando" que o Conselho de Administração, daquele banco, nomeie Mendes Cabeçadas para o substituir. 

 Hoje fica uma sugestão de zarzuela, já que falámos de Espanha, por razões bem menos felizes, fica um apontamento da La picola molinera, de Pablo Luna, estreada em 1928

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