terça-feira, 13 de abril de 2021

A farsa eleitoral de 1934

 

A farsa eleitoral de 1934

Casa Comum, 23 de dezembro de 1934

Cara amiga

Fui ver o recém estreado filme do António Lopes Ribeiro, o Gado Bravo, e lhe digo que não gostei, estamos muito atrasados em matéria de cinema, bem seria de admirar que assim não fosse, afinal trata-se apenas da 3ª filme sonoro, mas em comparação com o que vimos passar nas nossas salas, vindo lá de fora, é uma tristeza.

Mal interpretado e cheio de imperfeições técnicas o que me espanta atendendo a que este filme tem o Raul de Carvalho como principal papel, que como se sabe é um excelente actor de teatro mas parece que há dificuldade em se adaptarem à técnica cinematográfica.

Num ano em que Frank Capra ganhou o Oscar com essa notável comédia It happened one night, com o Clark Gable e a Claudette Colbert, é só vermos as diferenças.

Já há um tempo que se adivinhava que Rolão Preto acabaria preso e assim aconteceu, ao mesmo tempo que ilegaliza o Movimento Nacional-Sindicalista, pondo termo a um processo de dissidência interna, obriga-o a exilar-se bem como a Alberto de Monsaraz.

Salazar continua a organizar o seu estado autocrático corporativo, criou o Conselho Corporativo, que ele considera o órgão superior da organização corporativa nacional, tipico das organizações fascistas em geral. Presidido pelo presidente do Conselho de Ministros, tendo como membros permanentes os restantes ministros, dois professores de Direito Corporativo e membros eventuais, por convite.

Deveríamos ter ficado todos felizes, por terem acontecido, as primeiras eleições legislativas após o golpe de 28 de Maio, já lá vão 8 anos. Deveríamos, se fosse possível, chamar aquilo eleições, mas o que aconteceu em 16 de Dezembro passado foi uma farsa. Apenas a União Nacional foi autorizada a concorrer elegendo naturalmente os 90 deputados do círculo nacional único.

O afastamento dos cadernos eleitorais de cidadãos que não interessavam e paradoxalmente os analfabetos, que o governo é em primeira análise o responsável por existirem, não contado com a total ausência de fiscalização quer do acto eleitoral, quer da própria contagem.

Afinal estavam inscritos nos cadernos 478 121 eleitores e votaram 377 792, apesar de tudo um número ridículo para o nosso País


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