sábado, 1 de maio de 2021

As marionetas do senhor Reitor

 

Casa Comum, 31 de Maio de 1935

Caríssimo amigo

Ele há coisas que parecem de propósito, coincidências engraçadas que me ocorreram.

Olhe meu amigo, eu fui ao Tivoli, ver o filme do Leitão de Barros, As pupilas do senhor reitor, baseado na obra do Júlio Dinis com Joaquim Almada (Reitor), Maria Matos (Senhora Joana), António Silva (João da Esquina), Leonor d’Eça (Margarida), Maria Paula (Clara), Oliveira Martins (Pedro), Paiva Raposo (Daniel) e Lino Ferreira (João Semana).

Vi toda a gente muito entusiasmada com este filme, mas eu não gostei muito, mal por mal preferi a Severa.

O curioso contudo, foi o título, quando vivemos num país, cada vez mais do senhor Reitor Salazar, onde paradoxalmente se colhe a sensação que o presidente da Republica Óscar Carmona, que foi "reeleito"(pela União Nacional) em Fevereiro, para um novo mandato, se perfila como mais uma marioneta ao dispor do ditador.

Os papéis estão completamente invertidos, deveria ser o cargo de presidente do Conselho de Ministros a merecer a confiança do Presidente da República, mas aqui é ao contrário, é este que está refém do senhor Reitor.

Uma das coisas que incomoda Salazar é aquilo que denomina, ou o "porta voz" o deputados José Cabral o faz por ele, a existência das chamada "sociedades secretas", que nós sabemos muito bem ele querer atingir a Maçonaria. Onde se encontra concentrada a grande força da oposição, pelo menos a de característica mais intelectual. razão porque foram extintas por decreto de 21 de Maio passado, todas as associações secretas.

De certo modo, também engloba nesta proibição, outro tentáculo organizativo mais popular o Partido Comunista Português, que além de partido político, também é secreto e muito activo.

Em Itália já tinha acontecido, e Portugal não podia fugir à tradição fascista de se apropriar do símbolo que envolve o dia do Trabalhador a 1 de Maio, que é relevante para o movimento sindical e operário, naturalmente se a sua orientação, a sua chefia não for formada por "delegados do governo", mais um grupo de "pupilos do senhor Reitor", "secretariado" pela vigilância musculada da PVDE.

Sendo assim assinale-se que, tivemos este ano em grande estreia o Dia do Trabalho (uma nuance), com festejos oficiais elaborados pelo governo, incluindo um magnífico desfile de organismos corporativos, em Belém saudando o presidente da República .

Por hoje fico por aqui, 

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